terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Este texto da Jornalista Roberta Trindade é um retrato da nossa realidade




Pensando alto...
Não, não é preciso ficar 14 horas de plantão suportando 30kg de equipamentos debaixo de sol escaldante sem direito a banheiro ou água para provar que é policial. Nem ser escalado em plantões consecutivos, sem direito a um mínimo intervalo de folga para descanso.
Não, não é obrigatório aceitar más condições de trabalho ou tratamento para ser policial. Não, não é porque fez concurso pra Polícia que a pessoa tem que aceitar ser submetida aos mais variáveis absurdos.
Qualquer profissional tem o direito de exigir melhorias e lutar para que suas reivindicações sejam ouvidas e cumpridas. Ninguém critica um professor, um médico, um bancário que faz greve dizendo "não está satisfeito, pede pra sair" ou "quando entrou já sabia quanto iria ganhar".
Talvez algumas pessoas não saibam o que é isso, mas outras têm uma coisa chamada VOCAÇÃO. E o Dom de servir e proteger, colocando a própria vida em risco para proteger aqueles a quem sequer conhece e que na maioria das vezes nem mesmo os reconhece ou valoriza, não é pra qualquer um.
Não é porque há 40 anos o PM recebia um ovo colorido e um copo de groselha que os policiais têm que continuar aceitando esse tipo de tratamento. Todo profissional merece, sim, consideração e respeito.
Acho muito feio quando algumas pessoas julgam o certo como errado e o errado como certo. Como se o policial não fosse humano, não fosse de carne e osso.
Não é abaixando a cabeça pra tudo, aceitando toda e qualquer covardia e arbitrariedade que alguém prova sua masculinidade - ou feminilidade. Aliás, acho que é justamente o contrário.
E desculpem-me os que não concordam comigo, mas continuarei dando voz a esses homens e mulheres. Não é porque foram criados a Danone ou jogando bola de gude no carpete ou soltando pipa no ventilador. É justamente pelo contrário: porque tem que ser muito homem e muito mulher para enxergar que é preciso mudar e ter a coragem de participar desse processo de mudança.
E só podemos mudar as coisas a partir do momento em que as debatemos.
Acabamos de sair de um ano com a média de 6 policiais baleados por semana. Em todo 2014, 306 policiais foram vítimas de projéteis de arma de fogo - somente no Estado do Rio. Em doze meses, 87 morreram.
E ao invés de alguém gastar energia para compreender esses números e procurar alternativas para que eles não se repitam - além de brigar para que cada caso seja investigado E elucidado - ficam tentando justificar o injustificável.
Desculpem-me pelo tamanho do desabafo. Mas dizer que "as coisas não são bem como parecem" não me convence.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é de todos. Principalmente da sociedade. E não de um grupo que se acha acima da maioria dos praças e que se acha melhor que alguns oficiais.

2 comentários:

  1. ¨Não é porque há 40 anos o PM recebia um ovo colorido e um copo de groselha que os policiais têm que continuar aceitando esse tipo de tratamento. Todo profissional merece, sim, consideração e respeito.¨
    Roberta Trindade

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  2. sempre ouvi dizer que o mundo está caminhando pro fim, agora tenho certeza vendo tanta desgraça uma atras da outra

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